ATA DA QUADRAGÉSIMA SESSÃO SOLENE DA TERCEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA TERCEIRA LEGISLATURA, EM 13-11-2003.

 


Aos treze dias do mês de novembro de dois mil e três, reuniu-se, no Plenário Otávio Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às dezenove horas e dezenove minutos, constatada a existência de quórum, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada à entrega do Prêmio Artístico Lupicínio Rodrigues à Banda Produto Nacional, nos termos do Projeto de Resolução n° 046/03 (Processo n° 2213/03), de autoria do Vereador Renato Guimarães. Compuseram a MESA: o Vereador Renato Guimarães, presidindo os trabalhos; os Senhores Paulo Dionísio, Jorge Cidade, Ludi Oliveira, Isnard Prates, Tom Júnior, Renato Batista e João Costa, integrantes da Banda Produto Nacional. A seguir, o Vereador Renato Guimarães, presidindo os trabalhos, convidou a todos para, em pé, ouvirem a execução do Hino Nacional e, após, salientou a justeza da concessão do Prêmio Artístico Lupicínio Rodrigues à Banda Produto Nacional, comentando aspectos alusivos à trajetória artística da banda e externando votos de sucesso aos seus integrantes. Após, o Vereador Renato Guimarães, presidindo os trabalhos, procedeu à entrega do Prêmio Lupicínio Rodrigues à Banda Produto Nacional, concedendo a palavra aos Senhores Ludi Oliveira, Paulo Dionísio e Jorge Cidade que, em nome da Banda Produto Nacional, agradeceram o Prêmio recebido. Em continuidade, o Senhor Presidente convidou os presentes para a abertura da 12ª Semana da Consciência Negra de Porto Alegre, a ser realizada amanhã, no Largo Zumbi dos Palmares, e para apresentação da Banda Produto Nacional, a ser realizada no dia vinte e três de novembro do corrente, na Vila Brasília, bem como para o evento de encerramento do evento intitulado “Universo da Tribo”, a ser realizado no dia dezesseis de novembro, no Auditório Araújo Viana. Após, a Banda Produto Nacional realizou apresentação artística. A seguir, o Senhor Presidente convidou os presentes para, em pé, ouvirem a execução do Hino Rio-Grandense e, nada mais havendo a tratar, agradeceu a presença de todos e declarou encerrados os trabalhos às dezenove horas e cinqüenta minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária a ser realizada na próxima segunda-feira, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Renato Guimarães. Do que eu, Renato Guimarães, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pela Senhora 1ª Secretária e pelo Senhor Presidente.

 

 


O SR. PRESIDENTE (Renato Guimarães): Estão abertos os trabalhos da presente Sessão Solene, destinada a homenagear a Banda Produto Nacional com o Prêmio Artístico Lupicínio Rodrigues

Convidamos todos os presentes para, em pé, ouvirmos o Hino Nacional.

 

(Ouve-se o Hino Nacional.)

 

Em primeiro lugar, é bom nós destacarmos aqui que, não só por uma coincidência, mas também por uma questão de agendamento, nós temos o prazer de dizer que estamos realizando esta atividade de entrega do Prêmio Lupicínio Rodrigues ao Produto Nacional no momento em que estamos abrindo mais uma Semana da Consciência Negra. Acho que essas coisas combinam; elas têm um simbolismo muito forte.

É importante dizer - e nós, em nome da Presidência da Casa, da Mesa Diretora, que nos deu esse papel de entregar o Prêmio e presidir os trabalhos de hoje - que a Câmara de Vereadores sente-se prestigiada neste momento. O momento de entrega de um prêmio não é só um momento em que nós prestigiamos os nossos convidados, mas é um momento em que a Câmara também se sente prestigiada por poder estar constituindo uma relação com representações da sociedade; neste caso, uma representação de imenso valor na área cultural. Entregar o Prêmio Lupicínio Rodrigues, por todo o peso, por toda a significação que tem esse Prêmio e a figura do Lupicínio para cada um de nós gaúchos e gaúchas, ao Produto Nacional, mostra o reconhecimento desta Câmara, dos cidadãos de Porto Alegre, dos cidadãos gaúchos pelo trabalho que a Banda vem desenvolvendo.

É importante também destacar, em nome da Casa - cabe a mim fazer isso - que a indicação para o Produto Nacional receber o Prêmio não foi só uma iniciativa particular do Vereador que aqui fala. Ela, na realidade, vincula-se a uma caminhada da Banda e a um sentimento de um conjunto muito grande de militantes do Movimento Negro, que disse ao nosso mandato que é importante estar, neste momento, premiando esta Banda pelo significado que ela tem na caminhada da luta antidiscriminatória, anti-racista neste Município, no Estado e no Brasil. Cito isso porque acho que a entrega de um prêmio a uma representação pública, no meu entendimento, tem de estar ligado a um valor desses. O que leva o nosso mandato, num momento desses, a estar construindo essa relação de premiação a essa representação cultural aqui é esse símbolo que, para nós, é muito forte. Vivendo numa sociedade em que, a cada momento, há a necessidade de fazer a denúncia da falsa democracia racial, da necessidade de estar dizendo que existe racismo, que existem atos discriminatórios nas relações da nossa sociedade, que bom que segmentos da cultura, segmentos da música incorporem isso como um dever, como um fazer do cotidiano. E nós entendemos que a Banda Produto Nacional faz isso no seu dia-a-dia, faz isso nas suas composições, nas suas apresentações, disputa esse imaginário, essa simbologia com a população no momento em que produz cultura.

Nós sabemos que não é fácil tu freqüentares, tu venderes, dentro do campo da cultura da música, tu te tornares algo que a população compra, que a população ouve, disputando, junto com isso, um projeto de sociedade, um projeto de vida. E o Produto Nacional faz isso, porque coloca o seu produto no mercado, é bastante ouvido, e “cola” nisso essa disputa de conteúdo porque está associado à questão de construir um mundo melhor para todos e para todas, e também de denúncia em relação à discriminação racial. Acho que essas coisas são importantes.

Eu não saberia listar muitos autores, muitos compositores que, na realidade, disputam esse imaginário, permanentemente, na sociedade brasileira. Eu diria que, para o meu gosto, o Bezerra disputa isso; há outros mais no campo da denúncia social, geral, que também fazem isso, mas a gente não poderia dizer que são muitos. Então, aqueles que fazem devem ser acolhidos, amados, protegidos e referenciados por nós, e essa é a intenção que a Câmara de Vereadores faz aqui hoje. Na realidade, ela reconhece o valor que essa companheirada do Produto Nacional tem, pela sua qualidade, enquanto produção cultural, musical, mas centralmente, na representação que me cabe aqui, por disputar um conteúdo junto à população - um conteúdo de construção de um mundo novo, de um mundo onde as pessoas se respeitem e onde não haja discriminações.

A gente quebrou o Protocolo, porque, como eu  presido e também entrego o prêmio, nós vamos fazer um esquema do protocolo do Presidente, que está presidindo os trabalhos.

Então, antes de entregarmos o Prêmio, nós vamos agradecer a presença de todos; há aqui representações da Prefeitura, companheiros que trabalham em diversos órgãos da Prefeitura; vamos listar aqui a apresentação dos nossos convidados que estão na Mesa: o Paulo Dionísio, do vocal, nosso companheiro; o Renato Batista, do trompete; o Jorge Cidade, do sax; o Isnard Prates, do baixo; o Ludi Oliveira da guitarra; o Tom Júnior da guitarra; e o João Costa da bateria. (Palmas.)

Nós também combinamos com os nossos colegas do Produto Nacional que vamos abrir a palavra a uma representação, ou a mais de uma representação, como queiram, para que possam falar um pouquinho da história a Banda; como começou, como está, aonde quer chegar e que disputa apresenta para a sociedade.

Com a palavra o Ludi Oliveira.

 

O SR. LUDI OLIVEIRA: Não sou muito afeito à tribuna, o meu negócio é palco, e é instrumento. Na verdade, a Banda Produto Nacional começou na vontade de se fazer um trabalho próprio e de se mostrar a verdade que se procurava.

Eu quero agradecer, neste primeiro contato, neste primeiro espaço, a Silva Oliveira e Carlos Azambuja, que comigo formaram e começaram a Produto Nacional, porque sem eles, a Produto Nacional não existiria, e a gente não estaria agora, neste momento, aqui frente a esta homenagem, junto com os meus companheiros, junto com os meus irmãos.

Eu quero agradecer também ao Marcelo Lohmann, ao Jorge Fox e a todas as pessoas que participaram conosco desse trabalho, esse trabalho que começou - a verdade é a seguinte: eu escrevi um monte de coisas, mas eu não vou ler, eu vou falar de coração – com o compromisso de batalhar contra a discriminação, fosse qual fosse, racial, social.

No princípio, eu lembro que quando a gente começava, com as nossas letras, com a nossa verdade, era nós no palco pulando, e muita gente se afastando da gente por não entender o nosso trabalho.

Quero agradecer também ao Paulo Dionísio, o cara que, sem ele, eu acho que a gente não teria começado, nem teria meio; ao Jorge Cidade, que tocava com um clarinete preto, de madeira. Depois se juntou a nós o João Costa; o Tom, outro guitarrista; o Isnard Prates e o meu irmão e companheiro também, Renato Batista.

Na verdade, esse trabalho paralelo que eu fazia como funcionário da Câmara, e faço, e o trabalho que eu faço com a Produto Nacional tem muito a ver com o sentido e com a ideologia da palavra “política”, que hoje a gente carrega.

O disco, A Mão do Justo, com que a gente foi contemplado com o Prêmio Açorianos e pelos Direitos Humanos foi resultado de um trabalho de muitos anos, de muita pesquisa ideológica.

Nós não somos partidários, mas nós fazemos política dentro da nossa política, dentro da nossa verdade. Nós procuramos a raiz, seja ela qual for. A nossa verdade dura e tem de durar sempre.

Eu acredito, tenho fé. Nós somos contra os tiranos, que juntam milhões e milhões de dólares e jogam mísseis em pessoas inocentes, em povos inocentes, dizimando, matando pessoas inocentes de várias culturas e religiões.

Hoje em dia, a Banda Produto Nacional é esse protesto - nós acreditamos no amor, nós acreditamos que haverá um mundo melhor para os nossos filhos, por isso nós levamos essa bandeira da Produto Nacional. Nós queremos paz, queremos amor, queremos o equilíbrio entre os homens e a natureza, queremos que o homem respeite a natureza, porque Deus perdoa sempre, o homem, às vezes; a natureza não perdoa nunca. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Renato Guimarães): O Sr. Paulo Dionísio está com a palavra.

 

O SR. PAULO DIONÍSIO: Às vezes eu não sei o que dizer, mas é sempre bom a gente estar “ligado” de que a vida é isso. A vida nos propõe algumas coisas, e se a gente não abraça o que a vida propõe, ela continua passando, e as coisas ficam para trás. Há coisas que só a gente pode fazer. Eu acredito que a Produto Nacional veio, não com uma missão filosófica ou para mudar a vida das pessoas, mas eu acredito muito no trabalho da Banda justamente por isso, porque ela está conseguindo mudar a vida das pessoas. Não que a gente faça isso de uma forma proposital. A gente não se juntou um dia para fazer uma música que falasse a verdade, que tentasse buscar um caminho ou dizer como fazer as coisas. A gente nunca pensou a Banda de forma a fazer com que ela recebesse um prêmio ou algo parecido. O que a gente sente, hoje, é que ela é algo útil, e para nós isso é uma maravilha. Porque quando a gente se sente útil, não só na profissão, mas na vida, as pessoas podem nos usar no sentido mais filosófico, no sentido mais social, podem  ouvir a nossa música e tentar ver um outro lado que não aquele que está sendo mostrado através da televisão, através do rádio, do jornal, da revista, de toda a mídia imposta dentro da nossa cabeça todo dia, toda hora. Então, a nossa intenção não é uma intenção proposital, ela é uma intenção que “pintou” na nossa vida e a gente se propôs a abraçar como causa. A gente está vendo que isso tem uma conseqüência, e a conseqüência está sendo muito legal.

Então, nós somos uma ação e somos também a reação. E, se conseguirmos andar juntos, seremos muito mais ação e muito mais reação. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Renato Guimarães): O Sr. Jorge Cidade está com a palavra.

 

O SR. JORGE CIDADE: Boa-noite. É com satisfação que, mais uma vez, fazemos agradecimentos àquela companheirada, músicos e fãs que nos acompanham. Porã, da Rádio Ipanema; Adair Antunes, do Sindicato dos Músicos; Márcio; pessoal do Movimento Negro; pessoal do Movimento Social que está sempre apoiando e que está sempre atento. São muito importantes, porque sem esses grupos, nada existe, nada vai além. Gostaria de agradecer aos orixás, aqueles que trouxeram da África toda essa matriz africana, essas idéias de liberdade. Eu gostaria de agradecer àquelas mentes progressistas que lutam até o fim, desde o amanhecer, quando se acordam, em luta pela liberdade. É a liberdade que num País como o Brasil, que ainda a etnia negra, a etnia indígena lutam para se valorizar, para colocar uma posição positiva na consciência de uma sociedade que ainda está centrada no eurocentrismo. É com satisfação que digo que é uma caminhada não da Produto Nacional, ela é só uma alavanca, é um sentido, é uma bênção que caiu sobre nós e a gente sentiu o berro do oprimido e aglutinou essas forças, para caminhar, junto com poesia, com som e com música.

Eu agradeço por este Prêmio que o Ver. Renato Guimarães, numa hora iluminada,  disse: “Eu vou premiar esses caras”. É com satisfação que a Produto Nacional vem.

Eu gostaria também de expor uma situação: a quadra, o nosso sambódromo, não pode ser alguma coisa de discriminação. A Marta Suplicy já colocou, em São Paulo, um prédio todo para o memorial africano, das matrizes africanas, as nossas crianças precisam de um referencial. Peço que vocês pensem nisso. Esta é  a palavra: beleza. Muito obrigado.  (Palmas.)

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Renato Guimarães): A Câmara é que tem de agradece pelo trabalho de vocês. O Prêmio foi proposto por nós, mas foi dado por toda a Câmara de Vereadores, quando nós votamos esse Prêmio, ele foi votado pela maioria absoluta desta Casa, o que mostra o reconhecimento do trabalho de vocês.

 

(Procede-se à entrega do Diploma.)

 

Quero deixar aqui um convite: amanhã, dia 14, sexta-feira, às 19h30min, no Largo Zumbi dos Palmares, haverá a abertura oficial da 12ª Semana da Consciência Negra de Porto Alegre. O Largo Zumbi dos Palmares, para quem não conhece, é onde era o Largo da EPATUR.

E também quero dizer para aqueles que quiserem assistir o show do Produto Nacional, dentro das atividades da Semana da Consciência Negra, será na Vila Brasília, na Av. Protásio Alves com a Av. Antônio de Carvalho, no campo do Carecão, será no domingo, dia 23 de novembro, às 20h30min - uma atividade descentralizada da cultura.

No dia 16, domingo próximo, às 15h, no Araújo Viana, haverá o show de encerramento do Universo da Tribo, também com a apresentação do Produto Nacional.

Nós vamos improvisar uma apresentação do Produto Nacional, fugindo um pouco do protocolo.

 

(Assiste-se à apresentação da Banda Produto Nacional.) (Palmas.)

 

Agora, então, encerrando a nossa Sessão Solene, nós queríamos deixar um convite: junto ao hall, vai ser feito um coquetel, que é um apelido que deram para o nosso salgadinho que vai ter ali fora.

Neste momento convidamos todos os presentes a ouvirmos o Hino Rio-Grandense.

 

(Ouve-se o Hino Rio-Grandense.)

 

Agradecemos a presença de todos e damos por encerrada a presente Sessão Solene.

 

(Encerra-se a Sessão às 19h50min.)

 

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